sábado, 26 de novembro de 2011

Querido Pai, hoje, dia 26 de Novembro de 2011, completarias o teu 59º aniversário e eu gostaria de estar perto de ti. Gostaria de te oferecer a minha vida e a minha saúde, bem como os meus sorrisos e as minhas alegrias que tanta falta te fizeram durante todo aquele tempo de sofrimento. Arrependo-me do que desperdicei, sinto-me triste por ter sido incapaz de ter a noção da gravidade da doença que se apoderava de ti, o que me levou a desperdiçar sem conta. Olho para trás e vejo tantos espaços em branco que, por culpa minha, não foram preenchidos. Pergunto-me vezes sem fim o porquê de não os ter preenchido a mostrar-te o quanto gostava de ti e o quanto te admirava. Serás eternamente a pessoa que mais admiro no mundo e esta mágoa que me deixaste, essa, que é ainda maior por minha culpa, jamais me largará. Espero que me perdoes, porque acima de tudo sei que foste o único a fazer com que o meu sofrimento fosse poupado e esse, apesar de bem intencionado, foi o teu único erro porque eu sei que foi graças a isso que não consegui ter a perceção real. Obrigada por todo o esforço feito para me fazeres feliz, só gostava de um dia poder retribuir tudo isso.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Crescer

Somos tão inocentes quando, ainda, a única coisa que nos motiva é o facto de termos duas pernas que nos poderão levar a correr para diante de outros seres pequeninos que só têm como preocupação expressar de forma correta os seus desejos. O que é certo, é que tal como todas, a fase das palavras sem nexo e dos bonecos sorridentes que nos acompanham ao adormecer, também acaba. Crescemos, cada um a seu ritmo, mas acabamos sempre por crescer, física e psiquicamente. Percorremos longos caminhos com inúmeros obstáculos que, ao longo do tempo, nos deixam ter a perceção de como lidar com eles. Mudamos a cada caminho percorrido e vamos construindo, aos poucos, o nosso “eu”. A nossa opinião, o nosso gosto, a nossa forma de visão, a nossa personalidade, tudo muda, tudo se formula e reformula.
Damo-nos conta de que o tempo vai passando e que marcas vão ficando, marcas essas que, tal como o nome indica, nos marcaram. São esses acontecimentos que nos permitem crescer e com este, mudar.
As memórias vão-se apagando lentamente e nós vamos vivendo, o que, na minha opinião, deveria ser feito da melhor forma possível: aproveitando todos os momentos como sendo os últimos; nunca desistindo; encarando os problemas da melhor forma e, por fim, tendo consciência de que a vida é o que cada um de nós quiser fazer dela.
Quando adquiridas as principais perceções, que serão, mais tarde, a base de outras, há que saber em pôr em prática tudo o que já foi aprendido, tendo com isto o objetivo de não voltar a cometer os mesmos erros cometidos anteriormente, mas sim outros que serão fruto do novo caminho iniciado.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Descansa em Paz

Sempre me questionei relativamente à existência de Deus e cheguei a uma altura que não era, definitivamente, crente do mesmo.
Chegou o dia em que tive que me apoiar em qualquer coisa e a única que encontrei foi Deus, e acreditei que de nada me custava tentar e pôr em prática as minhas rezas, tão pobres quanto o sentido de vida que eu via diante de mim. Não me valeu de nada e sempre ouvi dizer que era sim, a fé que importava quando invocado Deus, e era mesmo a fé que se tinha apoderado de mim por completo. Percebi que tinham sido escusadas todas e quaisquer palavras e apelos perante Deus, porque apenas um dia após isso, tudo se sucedeu.
Nunca me tinha sentido tão sozinha no meio de tanta gente, nunca tinha sentido uma dor tão grande no peito provocada pelos repentinos batimentos do meu triste coração. Os meus olhos, vidrados, apenas reflectiam a mágoa que, uma vez, se tinha apoderado também de mim. Toda eu escorria confusos sentimentos pelas lágrimas que caíam incontrolavelmente dos meus olhos, que pestanejam vezes sem conta, sem saberem o que realmente estavam a ver. O que é certo é que viam lágrimas, gemidos e solidão. Eu própria sentia uma solidão interior que sabia que jamais seria ocupada.
Inúmeros corpos desorientados se dirigiam a mim e abriam os braços num gesto de desespero e eu sentia as suas lágrimas que molhavam o meu rosto, unindo-se com as minhas, que como um riacho, não paravam de escorrer. O pânico era tanto que eu própria já não sentia absolutamente nada e não estava minimamente crente da ocorrência.
Mais tarde, muito mais tarde, interiorizei-me. Apercebi-me do egoísmo da nossa parte em querer que alguém permanecesse com um cruel sofrimento, já para não falar, de uma dimensão extrema. Acabei por compreender que foi um alívio o meu querido Pai ter deixado de sofrer. Amar-te-ei sempre.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

cinco mil e quatrocentos segundos

E mais uma hora e meia passou, acompanhada por palavras, confissões, sorrisos, reflexões, até que eu declarei que é a isto que me agarro, à escrita.
Existe algo dentro de mim que me diz que talvez não deva confiar, de todo, em alguém, e que as palavras sejam talvez as minhas melhores amigas de sempre. Exponho-as, una-as, formo nexos, textos, verdades que talvez nunca foram ditas, e, que, de certa forma, talvez nunca venham a ser.
Nesses meros 5400 segundos, tive um pequeno momento de abstracção de quem me dirigia a palavra e olhei. Olhei em redor, olhei, olhei mil vezes. Havia tanto para olhar, tanto por descobrir, tanto por interpretar. Dei por mim rodeada de coisas desvalorizadas. Pilares que seguravam o tecto que me acolhia, árvores que ofereciam oxigénio, candeeiros que me iluminariam as noites, paredes que me equilibravam, pássaros que gritavam uma liberdade invejável, brisa que me acalmava, tudo aquilo que me levava a pensar. Achei indecente, tal desvalorização, por parte de todos, relativamente a algo que nos é indispensável. Pilares que sujamos, tectos que desprezamos, paredes que escrevemos, pássaros que assustamos, brisas que desejamos que desapareçam, tudo nos leva à saturação e desvalorização. O interesse pelo essencial desapareceu, toda a superficialidade se apoderou do interesse geral de qualquer um.
E de repente, voltei à realidade, e lá estava, alguém, a chamar por mim, perguntando-me o porquê de tanta distracção naquele momento. Expliquei que há coisas formidáveis sem as quais não viveríamos e que desprezamos loucamente. Não dei qualquer outra justificação, não pronunciei qualquer outra palavra para além daquelas. Surpreendi quem me fazia companhia, pois esse alguém não fazia a mínima ideia do que eu quis dizer, muito menos se eu estaria boa da cabeça, ou não.
Por momentos, voltei a apagar-me, era apenas eu e os meus pensamentos. Estava tal e qual um louco, não ouvia nada, ninguém, quieta, ali, de olhos vidrados, a sorrir. Corriam-me imagens pela cabeça, momentos inesquecíveis e que valorizo ao máximo, que sei que vão ser multiplicados por muitos mais. Existe alguém, que sei, que está sempre presente, seja qual for a circunstância. Sei que voltei a conjugar o verbo amar, e sei que amar não é nada mais, nada menos, que um sinónimo de "inexplicável".
Sinto-me enlouquecida por tudo. Até um dia.