quinta-feira, 19 de maio de 2011

Descansa em Paz

Sempre me questionei relativamente à existência de Deus e cheguei a uma altura que não era, definitivamente, crente do mesmo.
Chegou o dia em que tive que me apoiar em qualquer coisa e a única que encontrei foi Deus, e acreditei que de nada me custava tentar e pôr em prática as minhas rezas, tão pobres quanto o sentido de vida que eu via diante de mim. Não me valeu de nada e sempre ouvi dizer que era sim, a fé que importava quando invocado Deus, e era mesmo a fé que se tinha apoderado de mim por completo. Percebi que tinham sido escusadas todas e quaisquer palavras e apelos perante Deus, porque apenas um dia após isso, tudo se sucedeu.
Nunca me tinha sentido tão sozinha no meio de tanta gente, nunca tinha sentido uma dor tão grande no peito provocada pelos repentinos batimentos do meu triste coração. Os meus olhos, vidrados, apenas reflectiam a mágoa que, uma vez, se tinha apoderado também de mim. Toda eu escorria confusos sentimentos pelas lágrimas que caíam incontrolavelmente dos meus olhos, que pestanejam vezes sem conta, sem saberem o que realmente estavam a ver. O que é certo é que viam lágrimas, gemidos e solidão. Eu própria sentia uma solidão interior que sabia que jamais seria ocupada.
Inúmeros corpos desorientados se dirigiam a mim e abriam os braços num gesto de desespero e eu sentia as suas lágrimas que molhavam o meu rosto, unindo-se com as minhas, que como um riacho, não paravam de escorrer. O pânico era tanto que eu própria já não sentia absolutamente nada e não estava minimamente crente da ocorrência.
Mais tarde, muito mais tarde, interiorizei-me. Apercebi-me do egoísmo da nossa parte em querer que alguém permanecesse com um cruel sofrimento, já para não falar, de uma dimensão extrema. Acabei por compreender que foi um alívio o meu querido Pai ter deixado de sofrer. Amar-te-ei sempre.